terça-feira, 14 de agosto de 2007

Defeitos no Xbox 360 não incomodam usuário leal


Imagine se o seu liquidificador quebrasse duas vezes. O aspirador enguiçasse três vezes. A cafeteira expressa decidisse deixar de trabalhar repetidamente. Depois imagine substituir todos esses produtos, múltiplas vezes, pela mesma marca e modelo, e ainda assim manter a sanidade e a fidelidade de marca.

Stephano Nevarez teve essa experiência. Desde que adquiriu seu primeiro Microsoft Xbox 360, em 2006, por US$ 400, o aparelho enguiçou três vezes. E em cada ocasião, ele enviou a máquina de volta à empresa e esperou meses pelo conserto ou reposição. "Nada em minha casa quebra tanto assim", disse Nevarez, 15, aluno de segundo grau em Salem, no Oregon.

Mas ele continua dedicado ao seu console 360, ainda mais porque deseja muito jogar "Halo 3", a mais recente versão de um violento épico espacial, que chega às lojas em 25 de setembro e só estará disponível para o console da Microsoft.

O jogo, produzido pela Microsoft, pode resgatar a situação de vendas do grupo, na temporada de festas. Número incontável de proprietários de Xbox 360 enfrentou defeitos em seus consoles e, em muitos casos, voltou a enfrentar problemas com as máquinas de reposição, que apresentaram exatamente os mesmos defeitos devido a uma falha severa e generalizada na produção do modelo.

Mas caso os jogadores do Xbox continuem apostando na máquina por conta do "Halo 3", e caso outros jogadores comprem o console só pelo jogo, a Microsoft pode melhorar acentuadamente sua posição na batalha contra as rivais Nintendo e Sony.

"O 'Halo 3' é o jogo mais importante da Microsoft", disse Dan Hsu, editor chefe do "Electronic Gaming Monthly", uma revista de videogames. Hsu, que já viu o jogo, diz que ele atende a todas as expectativas, e até as supera, mas faz uma ressalva: "Supondo que o console funcione, o jogo cumpre o que promete".

A missão é ambiciosa. Combinados, "Halo" e "Halo 2" venderam cerca de 15 milhões de unidades, o que faz dessa série um dos maiores sucessos na história dos videogames. O jogo gerou livros, quadrinhos e possivelmente um filme.

O setor de consoles e jogos eletrônicos, que movimenta US$ 12,5 bilhões ao ano nos Estados Unidos, está em disputa aberta este ano. Do lado dos consoles, a Nintendo teve uma largada inesperadamente forte com o seu Wii, um sistema de jogo que tira os jogadores do sofá e coloca seus corpos diretamente em ação.

A Microsoft, que detém 57% do mercado, se recusa a informar o que vem causando os problemas de alguns de seus Xbox 360, ou o número de máquinas envolvido. A empresa reservou US$ 1,1 bilhão para reparos, número que sugere aos analistas do setor que os problemas podem envolver um terço dos 11,6 milhões de consoles que já foram vendidos.

A empresa anunciou que todos os Xbox 360 defeituosos serão consertados gratuitamente.

A explicação mais provável quanto ao erro dos engenheiros é que os consoles não estão protegidos como deveriam contra o calor intenso gerado pelo uso, e que chips e outros componentes podem estar caindo da placa-mãe, disse Richard Doherty, analista do Envisioneering Group, um grupo de pesquisa de mercado e avaliação tecnológica.

Doherty disse acreditar que a Microsoft, em um esforço por colocar sua máquina no mercado um ano antes do PlayStation 3, tenha reduzido demais o período de testes de produto. Segundo ele, a porcentagem de máquinas defeituosas entre os Xbox 360 é quase inédita entre os bens eletrônicos de consumo, mercado no qual índices de 1% ou 2% de defeitos são considerados problemas sérios.

Ele vem conduzindo entrevistas com usuários de videogames, e os resultados sugerem que a paciência deles está se esgotando, e que informações sobre os problemas estão desestimulando possíveis compradores, segundo Doherty.

Mesmo os usuários mais dedicados, afirma, estão incomodados com a idéia de não poderem levar suas máquinas a uma loja para manutenção preventiva, e em lugar disso terem de esperar que ela quebre.

"Os problemas estão dissipando boa parte do ímpeto que eles tinham ganhado antes de julho", disse Doherty, em referência à primeira admissão pública da Microsoft sobre sua reserva de US$ 1,1 bilhão para reparos. ""As coisas tendem a piorar ainda mais, antes que melhorem".

Nos últimos três anos, uma equipe de 250 projetistas e engenheiros vêm trabalhando, em tempo integral ou parcial, para criar o "Halo 3", uma tarefa atribuída ao Bungie Studio, a unidade interna de desenvolvimento de videogames da Microsoft, de acordo com Frank O¿Connor, o principal responsável pelo novo título. (Ele se recusou a revelar o montante que a empresa estava investindo em "Halo 3".)

A equipe de desenvolvimento está trabalhando sob enorme pressão, ele disse, mas expressou a esperança de que a nova versão se torne a mais vendida de todas, em especial devido a novos recursos como a capacidade conferida aos jogadores de gravar e produzir videoclipes curtos com parte da ação que jogaram.

"Em lugar de apenas dizerem ¿ei, você lembra daquela vez em que fiz isso e aquilo?¿, eles poderão salvar o trecho em questão em suas máquinas e exibi-lo aos amigos", disse O¿Connor.

Uma questão que resta determinar é se isso ajudará a Microsoft a vender mais consoles a consumidores convencionais, ou àqueles que podem estar preocupados com a confiabilidade do Xbox 360.

Mas não há dúvida de que os jogadores mais fiéis se apresentarão com toda a força e se deslumbrarão com a nova versão, tendo perdoado a Microsoft sobre os defeitos em seus consoles. "Estou no meu terceiro Xbox 360", disse Benjamin Lin, 18, um entusiasta do "Halo", em Seattle. "Para mim, as coisas não poderiam estar melhores".

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